24/01/2015
O respaldo da epigenética
Carmita Abdo
Não é de hoje que se discute a origem de nossas características, ações e
reações, se geneticamente determinadas (inatas) ou resultado das influências do
meio em que vivemos (adquiridas). Nem uma coisa, nem outra: ambas importam, o
que também não é novidade. O novo, nisso tudo, é o crescente conhecimento da
estreita relação entre o que é geneticamente transmitido e o que é influenciado
pelo ambiente. Já se pesquisa como nosso comportamento pode ser alterado pela
ação do meio sobre a expressão de nossos genes.
Epigenética é o nome que se dá ao mecanismo pelo qual ocorrem alterações
nas expressões dos genes, determinadas pela interação entre constituição
genética e exposição ambiental. De acordo com essa hipótese, a qual vem
ganhando evidências, o estresse intenso provocaria mudanças na estrutura de
uma proteína (cromatina), em regiões do cérebro (no sistema límbico,
especialmente) de pessoas vulneráveis. Essas mudanças alterariam a manifestação
dos genes, sem, no entanto, modificar a sequência original do DNA dessas
pessoas.
Tal influência do estresse sobre a cromatina cerebral também ocorreria
no início da vida, participando da determinação da capacidade de
resistência/fragilidade (da criança em desenvolvimento) aos acontecimentos
estressantes do dia a dia. Há fortes indícios da importância das modificações
epigenéticas que ocorrem na primeira infância, determinando maior
vulnerabilidade ao estresse. Em pesquisas com filhotes de camundongos, aqueles
que receberam poucos cuidados maternos apresentaram comportamentos ansiosos, na
idade adulta, mais frequentemente do que aqueles que tiveram alto nível de
cuidados. Paralelamente a esse comportamento
mais ansioso, foram observadas as alterações constitucionais descritas acima.
Mais instigantes ainda são as evidências de que os eventos estressantes
podem alterar a susceptibilidade ao estresse em gerações futuras, por meio da
transmissão transgeracional. De fato, animais submetidos à privação materna e
que apresentam maior fragilidade ao estresse geram descendência similar.
Os mecanismos dessa transmissão transgeracional da vulnerabilidade ao
estresse permanecem controversos. Apesar de já se saber que o estresse produz
alterações epigenéticas em genes específicos do esperma, não se pode afirmar
que essas alterações sejam a única causa dessa transmissão.
Outra causa pode ser comportamental: o cuidado materno modificado,
frente à reprodução com machos previamente estressados. Mais estudos são
necessários para conclusões.
Ampliando o contexto, vale lembrar que em Sexologia muito se comenta
sobre a “ansiedade de desempenho” como mecanismo pelo qual uma falha isolada se
torna “gatilho” para a dificuldade sexual permanente. Não conseguir obter
ereção num encontro sexual pode gerar no homem insegurança, nas oportunidades
futuras, o que provocará falhas sucessivas, exatamente pela ansiedade.
Frente ao que já se conhece sobre epigenética e transmissão
transgeracional, evidencia-se a importância da prevenção de situações
estressantes para as diversas áreas do comportamento. Para o comportamento
sexual, não seria diferente. Isso reforça a ideia de educação sexual, desde os
primeiros anos de vida, sem a urgência e o estresse que o “fantasma” do sexo de
risco (gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis) impõe, quando
esta educação se dirige a adolescentes já praticantes de sexo. Educação sexual
sem estresse é um mecanismo pelo qual se evitam dificuldades sexuais na vida
adulta. Vamos encarar ou continuar esperando que futuras pesquisas nos mostrem
novos caminhos de prevenção às mazelas sexuais de todo tipo?
OBS.: Grifos do blog.
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