MARIA RAMIM

Maria Ramim

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

ESTUDOS SOBRE O FACEBOOK TENTAM PREVER REAÇÕES DE SEUS USUÁRIOS

Enquanto algumas pesquisas associam a rede social à palavra ‘diversão’, outras mostram como as pessoas se deprimem quando seus ‘posts’ recebem poucas curtidas
POR THIAGO JANSEN
08/06/2014 6:00 / ATUALIZADO 08/06/2014 9:23

Rede social polêmica: pesquisa controversa da rede gerou críticas e acusações de usuários e especialistas - AFP


RIO - Quase 20% dos sete bilhões de habitantes da Terra estão por lá. O Facebook virou a grande praça do nosso tempo, um lugar de encontro e relações sociais que atrai crescente atenção do mundo acadêmico, de olho na compreensão dos efeitos que essa enorme interação exerce sobre o comportamento humano. São tantos os estudos focados na rede criada pelo americano Mark Zuckerberg quantos as conclusões a que eles chegam. Mas duas ideias perpassam todos eles: é difícil entender esse fenômeno totalmente, assim como, a depender de grande parte dos resultados a que chegam, é quase impossível ser feliz no Face.
"Efeitos" das redes sociais sobre os usuários intriga os cientistas - Arte de André Mello
Vejamos: mês passado, a universidade australiana de Charles Sturt, por exemplo, revelou que quanto mais uma mulher publica informações sobre si na rede, mais solitária ela se sente. Ao mesmo tempo, a também australiana Universidade de Queensland publicou duas pesquisas que cravam: a falta de acolhimento e aprovação ao que publicamos — em outras palavras, poucas curtidas aos nossos posts e fotos — nos deixa verdadeiramente angustiados e infelizes. No Reino Unido, estudiosos da Universidade de Stratchclyde que analisaram o comportamento de 881 jovens com idade média de 24 anos concluíram que quanto mais tempo eles passaram no Facebook, pior se sentiram. É que, embora muita gente costume retocar suas fotos com programas de edição ou, ao menos, escolher as melhores imagens para postar, acaba se esquecendo de que outros também o fazem e se deprime ao se deparar com a beleza alheia.
O diretório do instituto americano Pew Research Center, que agrega pesquisas, apresenta mais de 1.200 resultados quando se digita a expressão rede social. Se a busca é por Facebook, são mais de 1.600 entradas. Nem todo esse universo, claro, é deprê. Um trabalho da Universidade de Connecticut (EUA) de 2012 “revelou” que o Facebook é um nome associado à diversão. E, no ano passado, a prestigiosa Universidade de Cambridge, na Inglaterra, sugeriu que pessoas que curtem batata frita no site tendem a ser mais inteligentes (?!), entre inúmeras outros “estudos” de aplicabilidade duvidosa e resultados insólitos.
A assistente administrativa Larissa Diniz, de 27 anos, corrobora algumas pesquisas e discorda de outras. “Flodadora” (atualizadora quase compulsiva) com orgulho, ela publica diversos selfies por dia e vive compartilhando músicas, pensamentos, reclamações. Admite que se entristece se não tem a resposta esperada.
— Meu perfil funciona como um diário. Estou constantemente pensando no que vou postar, sempre ligada. Fico muito frustrada quando não reagem ao que eu posto. Por outro lado, se os amigos interagem bastante, meu humor melhora — afirma. — Mas não concordo com a pesquisa que diz que quem posta muito é mais solitário. Claro que, em um domingo chuvoso, sozinha em casa, vou postar mais do que o normal. Mas quando estou na noite com os amigos também publico um monte de fotos.
Coordenador de mídias sociais, Renato de Andrade tem mais de três mil amigos no Facebook e 10 mil seguidores no Twitter e faz do ofício seu passatempo favorito: conectado quase o tempo todo, ele publica em média cinco postagens diárias em sua página pessoal e gosta de provocar seus seguidores com perguntas inusitadas, estimulando interações. O carioca de 30 anos é outro que admite se deixar afetar pelas redes.
— Gosto de interação, de ver o que a galera está pensando, então também fico frustrado quando coloco perguntas e ninguém responde — diz Renato. — Agora, acho que, na verdade, todo mundo é um pouco solitário, mas cada um encontra a sua forma de lidar com isso. Nesse sentido, o Facebook é até positivo, porque dá a quem é tímido mais possibilidades de fazer amigos.
Pesquisas ajudam em tratamentos
Usuário ativo do Twitter, com mais de 52 mil seguidores, o designer criador do popular site de humor “Jesus Manero” Victor Berriel, de 25 anos, diz observar o impacto das redes na vida das pessoas diariamente, inclusive na sua:
— Vejo muita gente se comportando de formas que normalmente não faria se não tivesse conta no Facebook. Com as redes sociais, qualquer pessoa pode projetar o que quiser, e muitas moldam suas atitudes pelo modo como querem ser vistas.
Colaboradora do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, a psicóloga Sylvia van Enck vê com naturalidade a multiplicação das análises sobre o comportamento humano nas redes. Para ela, isso é apenas um reflexo do peso que sites como o Facebook têm na vida das pessoas:
— Somos diretamente afetados pelas dinâmicas das redes sociais. O nosso trabalho no Instituto de Psiquiatria da USP acaba se respaldando muito no que é publicado em termos de estudos sobre comportamento, tecnologia e internet. A partir deles, buscamos ajudar aqueles que têm a vida prejudicada pelo uso desmedido da rede. As pesquisas são o ponto de partida para um resultado prático.
Referência quando o assunto são redes sociais e internet brasileira, a cofundadora do site YouPIX Bia Granja diz que já foi mais empolgada com as pesquisas acadêmicas sobre o comportamento dos usuários online. Os resultados contraditórios e a maioria de conclusões negativas a levaram a observá-las mais como meras curiosidades:
— Fico ressabiada, porque as pesquisas muitas vezes parecem enviesadas. Muita gente também passou a vê-las com restrição. Tanto que a expressão “estudos apontam” virou piada na rede.
As piadas com as pesquisas acadêmicas ganharam terreno fértil nos próprios objetos de estudo delas. Há muitas páginas no Tumblr e no Facebook, além de perfis no Twitter, que ressaltam o humor involuntário dos trabalhos acadêmicos por meio de paródias e compilações de resultados absurdos. No Twitter, um dos mais populares perfis do tipo é o Estudos Apontam (@ApontandoEstudo), com mais de 45 mil seguidores. Nele, acumulam-se pílulas de irreverência, como “Estudos apontam que é possível ir pra academia e não tirar foto” ou “Estudos apontam: A bunda do Hulk tem vida própria”.
Para a psicóloga Mariana Matos, pesquisadora das redes sociais, pode-se depreender alguns aspectos importantes sobre a personalidade e os maneirismos das pessoas pelo uso que elas fazem das redes. Mas com parcimônia.

— Sem dúvida, os usuários acabam mostrando aspectos seus nas redes, seja na maneira como se projetam, seja na forma como interagem. Mas isso acontece em diferentes espaços da vida não digital também: não somos no trabalho as mesmas pessoas que somos com amigos — compara Mariana. — Não dá para resumir as pessoas às suas versões digitais. Não é porque alguém vive publicando selfies que é necessariamente inseguro. As pessoas devem ter noção de que as pesquisas envolvem fatores culturais e metodológicos particulares. Não se pode interpretá-las como verdade absoluta. O comportamento do ser humano não é uma ciência exata.
‘Tentativa de popularizar o conhecimento’
Escritora e especialista em redes sociais, Rosana Hermann diz ver no crescente interesse do meio acadêmico uma tentativa de popularizar o conhecimento, com produções que digam respeito a um público amplo. Apesar disso, para ela há um evidente desprezo dos pesquisadores pela dinâmica da internet — daí o negativismo predominante:
— Há pesquisas que são pura e simplesmente negativas. Geralmente são aquelas genéricas e reducionistas “pessoas que usam tal rede são assim”. Os estudos estão aumentando, mas ainda há muito rancor sobre o meio digital. E, com isso, uma grande falta de percepção sobre o que realmente está acontecendo nele. (Colaborou Marina Cohen)

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