MARIA RAMIM

Maria Ramim

sexta-feira, 27 de março de 2015

REDE DE APOIO À SÍNDROME DE DOWN

Maria Antônia Goulart, advogada: ‘Impomos muito mais limites que a síndrome’
Especialista em políticas públicas da educação integral, gaúcha que mora no Rio é uma das idealizadoras do Movimento Down, criado após dar à luz Beatriz
POR EDIANE MEROLA

Coluna: "Conte algo que não sei."

Foi o Brasil que apresentou à ONU a proposta de transformar o 21 de março no Dia Internacional da Síndrome de Down. Isso não é muito sabido. O dia é simbólico porque se refere aos 3 cromossomos 21, que caracterizam a síndrome. Patricia Almeida, casada com um diplomata que estava em Nova York numa missão da ONU, e Cristiane Aquino, que era diplomata em Washington, por intermédio do Itamaraty, conseguiram o feito. As duas têm filhos com a síndrome. O Movimento Down começou aí.

Quando soube que teria uma filha com Down?

Assim que Beatriz nasceu. Na gravidez fiz o exame de translucência nucal, mas não acusou. É algo que acontece. Hoje há exames mais modernos, mas ainda muito caros.

Você teve mais filhos?

Tenho o Luiz, de 19 anos, a Beatriz, de 4, e a Marina, de 2. O geneticista que nos acompanhou deu um só conselho: tenha outro filho. Ajuda muito, tanto para a criança quanto para a família.

Como é a relação das pessoas com a síndrome?

As pessoas desconhecem o potencial de quem tem deficiência intelectual. Nós impomos muito mais limites que a síndrome, achando que estamos protegendo. Isso já impede a pessoa de viver, acertar, errar, como qualquer um.

E quanto ao comportamento da família?

A gente aprende a botar a síndrome no lugar dela. No começo, fica do tamanho da sala. Depois você passa a olhar de forma positiva. O Breno (Viola, faixa preta e judô e ator do filme “Colegas”, dirigido por Marcelo Galvão), que trabalha com a gente desde o início, foi aos Estados Unidos falar na ONU.

Breno falou inglês na ONU?

Ele até arranha, mas teve tradutor, e eu também. Ele é um exemplo de capacidade. Certa vez foi a um congresso na África do Sul, com uma monitora nossa. Lá chegando, soube que “Colegas” havia levado o Kikito de melhor filme. Ele queria ir, mas a monitora não poderia acompanhá-lo. Dei a opção de ir sozinho e ele aceitou. Fez conexão no Aeroporto Charles de Gaulle, que é enorme, chegou a São Paulo e pegou outro voo para Gramado. Hoje, de 15 em 15 dias, ele vai a São Paulo, pega ônibus, táxi, tudo sozinho.

Há limites de aprendizado?

Conheci um rapaz com outro problema: paralisia cerebral. É o cineasta Daniel Gonçalves. Fiquei impressionada quando ele me contou que trabalhou para a TV Globo e que tem a própria produtora, e disse: “Tenho paralisia cerebral, mas sei fazer”. E foi ele quem produziu nossos vídeos. Ele relata que às vezes, andando na rua, as pessoas acham ele vai cair, e ele quase cai, mas de susto. É um movimento instintivo, mas que cria uma barreira.

Como o a pessoa com Down ajuda a sociedade?

A experiência vem mostrando que ter uma pessoa com Down por perto traz desafios novos. Não podemos posicioná-la como fardo. Todos ganham quando há heterogeneidade.

Quais são as atividades do Movimento Down?

Reunimos experiências e as tornamos públicas; qualificamos pessoas para reproduzirem informações. Temos vídeos tutoriais, mandamos material com sugestões de atividade. Hoje temos quase 170 mil curtidas na página do Facebook. No Brasil, quase não havia informação. Diferente dos Estados Unidos, onde há uma rede muito estruturada.

Como a rede se mantém?

Temos uma equipe profissionalizada, mantida com patrocínio, e um grupo grande de voluntários, entre os quais uma médica do hospital Albert Einstein, que também tem um filho com Down.




TEXTO DE ADÉLIA PRADO: ENVELHECER



"Erótica é a Alma"

"Todos vamos envelhecer... 

Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos. 

A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar. 

Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. 

Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio."

Adélia Prado

quinta-feira, 5 de março de 2015

BEM VINDO A HOLANDA: TENDO UM FILHO COM DESENVOLVIMENTO ATÍPICO

Por Emily Perl Knisley, 1987

Ter um bebê é como planejar uma fabulosa viagem de férias para a Itália ! Você compra montes de guias e faz planos maravilhosos! O Coliseu. O Davi de Michelângelo. As gôndolas em Veneza. Você pode até aprender algumas frases em italiano. É tudo muito excitante. Após meses de antecipação, finalmente chega o grande dia! Você arruma suas malas e embarca. Algumas horas depois você aterrissa. O comissário de bordo chega e diz:
- BEM VINDO A HOLANDA!
- Holanda!?! - Diz você.
- O que quer dizer com Holanda!?!? Eu escolhi a Itália! Eu devia ter chegado à Itália. Toda a minha vida eu sonhei em conhecer a Itália!
Mas houve uma mudança de plano vôo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar.
A coisa mais importante é que eles não te levaram a um lugar horrível, desagradável, cheio de pestilência, fome e doença. É apenas um lugar diferente.
Logo, você deve sair e comprar novos guias. Deve aprender uma nova linguagem. E você irá encontrar todo um novo grupo de pessoas que nunca encontrou antes.
É apenas um lugar diferente. É mais baixo e menos ensolarado que a Itália. Mas após alguns minutos, você pode respirar fundo e olhar ao redor, começar a notar que a Holanda tem moinhos de vento, tulipas e até Rembrants e Van Goghs.
Mas, todos que você conhece estão ocupados indo e vindo da Itália, estão sempre comentando sobre o tempo maravilhoso que passaram lá. E por toda sua vida você dirá: - Sim, era onde eu deveria estar. Era tudo o que eu havia planejado!
E a dor que isso causa nunca, nunca irá embora. Porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. Porém, se você passar a sua vida toda remoendo o fato de não ter chegado à Itália, nunca estará livre para apreciar as coisas belas e muito especiais sobre a Holanda!